Dia de Martin Luther King Jr. Direitos Civis.

Entrada do Memorial Martin Luther King Jr. em Washington, DC. Imagem: Gláucia Quênia

Dia 17 de Janeiro é comemorado, nos Estados Unidos, o Dia de Martin Luther King Jr. 

Dr. King foi um importante ativista dos direitos civis e lutou durante toda a sua vida para que os afro-americanos tivessem seus direitos como qualquer pessoa precisa ter. Apesar de ainda ser um problema sério mundialmente os negros terem seus direitos como seres humanos violados, não podemos ignonar que muitas personalidades, como Dr. King, deixaram legados para nós.

Ele era pastor e, com base nos seus aprendizados cristãos, defendia a luta dos direitos civis dos afroamericanos através da não violência e desobediência civil. Desta forma, liderou o boicote aos ônibus de Montgomery. Também ajudou na organização da Marcha sobre Washington quando fez o seu famoso discurso EU TENHO UM SONHO aos pés do Memorial do Lincoln.

Memorial do LincolnImagem: Gláucia Quênia

King tinha muita consciência sobre a vida do negro. Há um vídeo no qual ele faz uma fala muito bem fundamentada sobre a diferença da vida dos imigrantes europeus nos Estados Unidos e dos negros, que na verdade foram levados à força para serem escravizados; realidade bem diferente dos europeus. Este vídeo você pode assistir clicando AQUI

Ainda, há um filme chamado Selma que conta a história da Marcha deste lugar de mesmo nome, que também teve sua participação na organização. Seu ativismo começou a incomodar e quando estava organizando uma ocupação em Washington, DC, ele foi assassinado no dia 4 de abril de 1964 em Memphis. 

É importante que saibamos o que nossos irmãos fizeram mundo afora em prol dos descendentes africanos e entender quais foram seus legados. Alguns tiveram atitudes que nem sempre foram aceitas, mas com certeza todos eles tiveram as melhores das intenções para beneficiar nosso povo.

O blog Coração Africano visitou o Memorial de Martin Luther King Jr em Washington, DC para que vocês possam conhecer um pouco do espaço. Para ir direto ao vídeo no nosso Canal é só clicar AQUI e apreciar o belo espaço dedicado ao nosso irmão Martin Luther King Jr.

Memorial Martin Luther King Jr. em Washington, DC. Imagem: Gláucia Quênia

Barthélemy Boganda – República Centro-Africana

Barthélemy Boganda nasceu em 4 de abril de 1910 e faleceu em 29 de março de 1959. Ele foi o primeiro nacionalista do que hoje chamamos de República Centro-Africana.

Sua atuação política iniciou-se antes mesmo da independência do seu país, quando o território ainda fazia parte da África Equatorial Francesa e chamada de Ougangui-Chari. Em seu currículo soma-se o cargo de ser o primeiro primeiro-ministro após a independência da República Centro-Africana.

Boganda nasceu numa família de agricultores de subsistência e foi adotado e educado por missionários da Igreja Católica. Foi nomeado primeiro padre de Oubangui-Chari em 1938 e serviu em várias missões durante a Segunda Guerra Mundial. Sua entrada na política deu-se por meio da persuasão do bispo Bangui e em 1946 tornou-se o primeiro Oubanguiano eleito para a Assembleia Nacional Francesa. Parece que até aqui ele só serviu ao opressor, mas daí vem uma notícia bastante importante para nós pretos.

Por meio dessa posição que ele tinha na Assembleia, Boganda manteve uma plataforma política contra o racismo e o regime colonial. Ele voltou a Oubangui-Chari com a intenção de formar um movimento popular contra o colonialismo francês. A fundação do Movimento para a Evolução Social da África Negra (MESAN) aconteceu em 1949 e se tornou popular entre os moradores e a classe trabalhadora. Sua reputação foi ligeiramente prejudicada quando perdeu o direito de exercer atividades religiosas ao se casar com Michelle Jourdain, uma secretária parlamentar. Mas, independentemente disso, Boganda continuou a defender a igualdade de tratamento e os direitos civis para os negros até 1950.

Alguns anos depois, a Quarta República Francesa começou a considerar a concessão de independência à maioria das colônias africanas. Neste momento, Boganda começou a discutir os termos da independência de Oubangui-Chari com o primeiro-ministro Charles de Gaulle. De Gaulle aceitou os termos do nosso irmão Boganda e então dia 1º de dezembro de 1958 foi declarada a criação da República Centro-Africana. Foi aí que ele se tornou o primeiro primeiro-ministro do território e ainda pretendia servir como o primeiro presidente do país independente.

Infelizmente, um misterioso acidente aéreo aconteceu dia 29 de março de 1959 enquanto ele estava a caminho de Bangui e não apareceram os responsáveis. Há desconfianças de que o Serviço Secreto francês e sua esposa sejam os responsáveis. E pouco mais de um ano o sonho do irmão foi realizado: a República Centro-Africana alcançou a independência formalmente.

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Até o próximo post!

Dedan Kimathi – Líder do Movimento Mau Mau no Quênia

Dedan Kimathi foi um grande líder do Movimento Mau Mau, no Kenya. Este movimento nacionalista tinha como objetivo conquistar a independência do país, que era colônia britânica. Para os nacionalistas, Kimathi é tido como um herói; enquanto para o governo colonial, um terrorista.

No fim da década de 1940, Kimathi tornou-se membro da União Africana do Kenya (KAU). Tornou-se secretário dessa organização que era controlada por militantes da causa de Mau Mau. O Mau Mau começou como o exército da Terra e da Liberdade. O grupo passou a ter grande influência, causando uma grande ameaça ao governo britânico. Em 1951, ao assumir o juramento do Mau Mau, as atividades de Kimathi passaram a ser o grande alvo do governo colonial e, com isso, foi preso ainda no mesmo ano, mas escapando com a ajuda da polícia local. Este acontecimento deu início à sua revolta violenta, fazendo com que formasse o Conselho de Defesa do Kenya para coordenar todos os combates da floresta em 1953.

Em 1956, Kimathi foi capturado na floresta de Nyeri, assim deu-se fim à guerra florestal. O mais triste ao ler um pouco da sua história é que o júri o qual o condenou à morte era composto totalmente por pretos. E em 18 de fevereiro de 1957 ficou a data marcada pela sua execução, pendurado na prisão Kamiti Maximum Security.

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A humanidade nasceu na África. Por que existem povos com a pele clara?

Muitas pessoas se questionam sobre o fato de humanidade ter nascido na África e termos povos com tons de pele claros. Há algum tempo, o blog Coração Africano fez um post sobre isso e, agora, também trouxe este assunto no Canal do Youtube. Para acessar ao post, clique aqui. Para acessar ao vídeo, clique aqui.

Conhece a história dos seus ancestrais?

No post de hoje, venho falar um pouco sobre a importância de conhecermos o continente africano. Mais do que isso, reconhecer o continente africano como nossa raiz. Todo povo procura saber suas origens. Chegou a hora de nós, afrodescendentes, conhecermos as nossas, reconhecermos a África como nossa raiz, nossa cultura e pararmos de tentar encaixe em povo que não nos cabe, orgulharmo-nos das nossas raízes, da África. E, para começar bem o ano, eu, Gláucia, falei sobre esse assunto maravilhoso em um bate-papo bem gostoso com a VOA Português. CLIQUE AQUI, assista à nossa entrevista e depois me conte o que achou.

Feliz 2021 a todos!

Relações familiares na África

por Gláucia Quênia

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

O papo de hoje é sobre as relações familiares em África e que são muito diferentes do Brasil. 

No Brasil, as nomenclaturas que usamos são mãe, pai, tio, tia, primos de primeiro, segundo, terceiro graus e por aí vai. Eu, Glaucia, já conheci primos de até quinto grau; podem acreditar.

Em África, isso tudo é diferente. Lá, acontece da seguinte maneira: mulheres e homens que têm a partir da idade dos seus pais são chamados de “Maman” e “Papá”. Entre os primos, a consideração é como se fossem irmãos. Consequentemente, os filhos deles são seus sobrinhos. Pensem que lindo fica o tamanho dessas famílias! Em relação aos mais velhos, eu já percebi em situações diretamente com meus pais alguém chamá-los de Maman e Papá. À época, eu não entendi o porquê desse tratamento e pensei que não fazia sentido porque eles são MEUS pais (risos). Mas agora que aprendi esse costume, entendi perfeitamente a pessoa que se referia aos meus pais dessa maneira. Afinal, não precisa também ser somente com pessoas da família. Você pode tratar assim os pais de um amigo, por exemplo.

Essa forma de tratamento me fez refletir sobre como isso é terno, caloroso, afetuoso. Fiquei tão encantada que resolvi adotar com minhas tias que entenderiam esse costume, com primos e primas também. 

E esse post foi feito para convidar você, leitor, a resgatar costumes dos seus ancestrais aos poucos. E esse pode ser o momento para você começar a colocar em prática. Então, compartilhe também com aquele amigo ou amiga que também está em busca do resgate ancestral africano. Mesmo que tenhamos nascido na diáspora, somos africanos. O contexto onde nascemos é, realmente, diferente do continente. Penso que é praticamente impossível resgatar tudo igualmente, mas há costumes que podem, sim, ser inseridos no nosso dia a dia. 

Espero que tenham gostado de mais esse aprendizado sobre cultura africana. Convido-o a visitar nosso canal no YouTube, lembrando que sempre que há texto novo aqui, há vídeo novo do mesmo assunto no canal.

Até breve!

Tchokwe – Circuncisão – Parte 2

Hoje, vamos dar continuidade no uso de máscaras do povo Tchokwe com ênfase na circuncisão dos meninos da aldeia. Para quem não leu o post anterior, Tchokwe – uso das máscaras – Parte 1, eu aconselho a lê-lo para que possa conhecer as outras máscaras usadas pelos Tchokwe.

A cerimônia da circuncisão acontece na aldeia mesmo e os meninos que passam por esse processo precisam ter entre 10 e 14 anos, pois é a idade quando eles encerram o ciclo infantil e vão pra maioridade, puberdade. A partir do momento que decidem o dia da cirurgia, acontece toda uma mudança na rotina dos meninos para que eles possam ir para a MUKANDA (circuncisão). O pré-operatório é marcado por dias bastante ocupados em razão da preparação que é extremamente cuidadosa. Nesses dias, eles aprendem com os mais experientes da aldeia as canções, danças tradicionais, trabalhos artesanais Tchokwe; há mais ensinamentos que eles são orientados e que servem de aprendizado para toda a vida. E não são somente os meninos envolvidos que recebem preparações antes da circuncisão, seus pais também participam de rituais pré-estabelecidos pela aldeia. Portanto, toda a família é envolvida. Na véspera da cirurgia, os meninos são proibidos de realizar quaisquer atividades que possam lesionar seus corpos. Eles não podem entrar na MUKANDA (circuncisão) com nenhum tipo de ferimento.

O GRANDE DIA

Abaixo, vocês podem ver alguns modelos de máscaras usadas durante a cirurgia dos meninos.

Máscara Kalelwa
Kalelwa – Uíge ndemba – máscara para ritual circuncisão
Máscara Kalelwa – Tchokwe da República Democrática do Congo

Ao amanhecer, o chefe da aldeia acompanha os familiares e operadores ao local da cirurgia. Eles rezam aos espíritos pedindo proteção para afastar qualquer mal, qualquer doença e que tudo fique bem. Esse momento da reza é definidos como um agradecimento na língua deles e que é chamado de KUSAKWIA. Os gestos para esse ritual é tocar a terra com a ponta dos dedos e batem palmas falando “NGA BYU”; é uma frase de ação de graça. Após o ritual de abertura para a cirurgia, cada menino segue para o lugar destinado a eles para a operação. Para dar início à operação mesmo, o chefe da aldeia entoa canções seguidos por todos presentes. Então, ele diz: “MUSASWE, MUSASWE!”; o coro responde: “WOHO! MUSASWE.”

Como é exatamente a cirurgia

Com o professor que acompanhou os meninos durante a preparação desse dia, eles se sentam no chão capinado em círculo, as pernas devem ficar abertas. Os professores seguram os ombros dos meninos e a cabeça deles devem ficar virada para o lado para não verem os operadores fazerem o corte, que, aliás, é feito sem anestesia e assepsia. Mas é válido lembrar que existem procedimentos adequados para que não cause infecção, afinal isso é tradição para eles. Pode ser que hoje já possam fazer a cirurgia no hospital. Não sabemos se tem o mesmo valor que tem fazer da maneira original. Na imagem abaixo, vocês podem ter uma ideia da posição que os meninos precisam estar para a realização da cirurgia.

Momento da circuncisão

A cirurgia é finalizada após o processo de estancamento do sangue. Os professores acompanham os meninos durante toda a fase de cicatrização do corte. Além disso, por mais alguns dias fazem o ritual de adoração ao sol.

Além das máscaras já apresentadas, vocês podem ver a seguir mais algumas usadas pelos Tchokwe. Abaixo estão as máscaras chamadas CIKUNGU e CIHONGO, que evocam as imagens da mitologia Lunda-Tchokwe. Nessa tradição, há a princesa Lweji e o príncipe da civilização Tschibinda-Ilunga, que são considerados os personagens principais.

Máscaras de Cikungu e de Cihongo
Máscaras de Cikungu e de Cihongo
Máscaras de Cihongo

Vimos que as máscaras africanas não são usadas para decoração. Elas possuem seus reais e importantes motivos para existirem e sem usadas. Por isso, no post anterior, eu disse que: a expressão artística africana tem como foco a busca da alma da essência humana nas coisas.

Por hoje é só. Compartilhem esse aprendizado de hoje com seus amigos. Vamos propagar a cultura africana, a cultura da nossa origem, dos nossos ancestrais. Esse é o objetivo deste blog e do canal no Youtube. Se você ainda não nos visitou no YOUTUBE, não perca mais tempo e conheça agora mesmo o canal Coração Africano.

Até a próxima!

Tchokwe – uso das máscaras – Parte 1

O post de hoje é sobre o costume do uso de máscara do povo Tchokwe. Eles ficam no que hoje chamamos Angola e República Democrática do Congo. Há uma frase bastante interessante que nos faz pensar sobre a importância de apreciarmos com responsabilidade a arte africana: A expressão artística africana sempre tem como foco a busca da essência africana nas coisas. As peças sempre têm intenção de levar à reflexão sobre a valorização do mundo. Pra quem aprecia as peças artísticas africanas é vital ter a sensibilidade do infinito para entender as mensagens subliminares nelas. Portanto, para o artista dessas peças é preferível que o apreciador contemple somente a beleza a grosso modo, caso essa pessoa tenha dificuldade de compreender exatamente o que ele quis expressar nela. E a África é assim mesmo: o espiritual contido em sua cultura, em tudo que é feito por lá é o que a torna tão especial, tão singular.

É importante destacar, antes de estendermos a conversa, sobre a divisão da África. O que hoje existem como países é bastante recente. Os Europeus invadiram o continente fez toda a dominação mental e territorial que existe hoje. A oficialização da divisão de terras aconteceu em 1885 na Conferência de Berlim realizada para este fim: dividir o território africano em países como estão hoje e cada invasor ficar com suas terras. Nojento isso? Muito! 

Antes de tudo isso acontecer, o continente africano era habitado por povos, reinos, impérios delimitados fisicamente entre os irmãos africanos da época. Então, vocês que ainda não sabem sobre isso é importante guardar essa informação porque nos próximos vídeos que saírem sobre povos pode ser que eu fale que determinado povo (etnia na linguagem ocidental) esteja localizado em mais de um país. Isso acontece por causa dessa divisão que os invasores fizeram, e acabou dividindo alguns povos fisicamente. Por exemplo: o povo Tchokwe está localizado no que hoje chamamos de Angola e República Democrática do Congo; pode ser que estejam em outros lugares também. Então, quem souber pode comentar aqui porque informação para agregar é sempre bem-vinda. Outro exemplo é o povo Bakongo; eles estão localizados onde chamamos Angola e República Democrática do Congo. Mas não aconteceu com todos os povos essa divisão física, alguns se mantêm totalmente no que hoje chamamos de país.

Mas, independentemente disso, essa é a mãe-África; sempre profunda como mãe. Afinal, mãe é vista por todos nós como a pessoa que possui sabedoria além do que é visível aos olhos humanos.

Na arte africana, os artistas sempre procuram expressar diversos pilares. Por isso, a importância de conhecer sobre a cultura africana, pois não dá pra comparar a qualquer outra cultura do mundo, ela é única. Entre esses pilares estão a espiritualidade, a política, a sociedade, ambiental. No pilar da espiritualidade, cada povo expressa à sua maneira. Em África existem centenas de povos, e pode ter vários povos com culturas diferentes no mesmo país. O social é expresso pelos rituais, como a fase da mudança de ciclo da infância para a maioridade. O ambiental é representado pela celebração da colheita e estação de caça e pesca. O pilar da política é expresso por fotos e adereços de reis; tudo que é relacionado à hierarquia representa esse pilar. 

Hoje, daremos início ao assunto sobre as máscaras. O uso delas tem um significado muito importante para o povo Tchokwe, não é um uso estético. Elas são usadas para a transição dos meninos para a maioridade, momento bastante importante para eles e todos que vivem na aldeia.

Vou apresentar para vocês algumas máscaras e no próximo post eu falo um pouco mais sobre como acontece esse momento tão especial na vida deles.

 Mapa de Angola 1970
Máscara Masculina Tchokwe República Democrática do Congo

Há muito tempo, essa máscara era conhecida como Pwo (mulher). A mulher era considerada um modelo perfeito de maturidade, sabedoria e experiência. Com o passar do tempo, houve a necessidade de adaptação aos novos modelos sociais e, agora, essa máscara é conhecida como Mwana-Pwo (jovem mulher ou rapariga); lembrando que o termo rapariga não tem o mesmo sentido entre o português europeu e brasileiros. Mesmo com os novos padrões que a sociedade está vivenciando, a figura feminina continua com seu poder de validar ou criticar o que for do comportamento da sociedade tradicional desse povo. Como acontece tradicionalmente na grande maioria dos povos bantu, as máscaras são usadas em momentos de evocação e contato com os antepassados entre homens, um culto aos ancestrais. Por isso, Mwana-Pwo é fundamental na vida dos nossos irmãos que são desse povo, pois eles a têm como guia para educar e orientar todos.

A associação que fazem dela é uma cerimônia de iniciação masculina. Quando meninos jovens estão em transição da infância para a puberdade, eles são separados de suas mães. Seu uso acontece no terreiro em forma de dança para entreter a comunidade e celebrar essa passagem que os meninos estão passando. E, por ser uma máscara feminina, ela exerce o poder de crítica comentado anteriormente.

As máscaras são feitas com traços femininos pelo artista e que ele mesmo escolhe de qual mulher será ou como será, só não pode fugir dos traços que fazem parte do padrão estético da escultura deles. Nesse rosto, o escultor procura retratar das complexas representações, simbolismos até a fecundidade. A maneira que o bailarino se apresenta quando está com a máscara – sim, o bailarino – exige uma forma singular para transparecer a elegância feminina, fazendo movimentos mínimos para valorizar os movimentos da parte da cintura por conta da ênfase que precisa dar ao cinto característico da dança ciyanda. Para o povo da aldeia é fundamental que as qualidades femininas consideradas pelos Tchokwe perpetuem: delicadeza nas atitudes, fertilidade, beleza, força da juventude.

Bailarinos prontos para a cerimônia
Máscara Mwana-Pwo

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Até a próxima!

Por que dei nomes africanos aos meus filhos

Todos nós sabemos que uma das melhores maneira de dominar alguém, um povo ou um grupo é através da mente. Se a gente conseguir entrar na mente do grupo, dessas pessoas, é praticamente 100% de poder que temos sobre ela. E foi isso que acontecendo com a nossa perda de identidade durante a escravidão no Brasil. Existe um reflexo muito grave sobre identidade em todos os sentidos, foi um genocídio, apagaram pela mente, pela memória. O genocídio não é somente através de tiro, de bala. E esse apagamento de identidade foi o que os europeus fizeram quando sequestraram os nossos antepassados para serem escravizados no Brasil. Eles enriqueceram dessa forma. Mesmo tendo acontecido tudo isso, a gente precisa agora resgatar a nossa identidade. O Brasil vende sua imagem como se todos vivessem bem, a maioria da população autodeclarada negra, mas é um país racista. Isso não tem congruência. Então é urgente resgatarmos nossa identidade, centralizar nossa vida, nosso pensamento nas nossas origens. Cada pessoa tem seu ritmo. Existem muitas maneiras de fazer isso: roupas, estudos, comportamento.

O post de hoje fala sobre o resgate através dos nomes. Nomes são palavras e palavras têm força. Então, o nome tem uma força. A todo momento a gente está chamando aquela pessoa por aquela palavra, aquele nome. As características do nome serão inseridas na formação da personalidade daquela pessoa, é como um mantra. Não sei vocês já tiveram momentos de olhar para alguém e pensar que ela combina com o nome que tem ou que não combina com o nome que tem. É isso! A pessoa acaba se parecendo, vamos dizer, com as características que compõem aquele nome.

Dentre os itens que tem no conjunto de identidade é o nome, valorizar os nomes das nossas origens. Em vez de valorizamos os nomes dos europeus, dos orientais, de outros povos, vamos valorizar o que é nosso. Não há problema algum nisso. O problema está sim nas críticas que recebemos quando valorizamos nossa cultura africana, mas nenhum outro povo é questionado como a gente. Por quê?

Eu, Gláucia, sempre tive interesse em saber os significados dos nomes. Quando comecei a voltar minha atenção para os estudos africanos, logo decidi que quando tivesse filhos, seus nomes seriam africanos. Eu escolhi Lueji por causa de uma novela angolana, mas obviamente que antes de colocar o nome somente porque gostava, eu busquei seu significado. Minha filha se chama Lueji Nyota, também buscamos o significado de Nyota. O nome do Béenesha também, a gente buscou o significado. Temos que escolher com bastante cuidado porque um nome não se troca como roupa, é algo muito importante e sempre vamos querer o melhor para os nossos filhos. Confesso que nunca vi significado ruim de nome, mas quanto mais critérios termos, melhor. Como é difícil mudar nome, se conseguirmos dar sobrenome, OK, um passo por vez. Porém, hoje em dia, há muitxs irmãos e irmãs que usam socialmente nomes africanos e não há problema algum nisso.

O importante é buscarmos nossa ancestralidade. Dá pra começar por diversos caminhos: estética, moda, nomes, estudos. Cada pessoa tem seu processo.

Quem quiser assistir ao vídeo desse mesmo tema, acesso o canal Coração Africano!

Crise de identidade: uma reflexão no contexto diáspora Brasil

Dia 9 de agosto, fizemos uma live com o intuito de refletirmos sobre a crise de identidade no Brasil. Para essa reflexão, convidei o Kamanda porque ele tem muitas coisas interessantes para nos falar sobre esse assunto.

O assunto é importante para falarmos não somente no Brasil, mas para todos nós pretos do mundo, seja quem nasceu no continente africano ou na diáspora. Em primeiro lugar, precisamos definir o que é a identidade, isso é muito importante. A identidade é um conjunto de características dos valores espirituais, culturais; os valores sagrados para um povo, por exemplo. São essas características que formam a identidade de um povo. Essa questão dos valores envolve nós como povo. Isso é globalmente.

Por meio das participações que teve em atividades raciais no Brasil, o Kamanda pode ver bastante sobre a questão identitária. O Brasil conheceu um processo muito diferente dos outros povos em relação à escravidão, existe uma crise, como no continente. A crise se manifestou quando o indivíduo foi levado à força pra algum lugar, deram pra ele trabalhos forçados, tiraram a cultura dele, tiraram todos os valores dele. Os proprietários deram seus nomes aos escravos, assim a pessoa começa a perder seus valores, suas raízes, assim começa o processo de apagamento. Ao longo do processo, existe uma agenda. Na história do Brasil, lá no início dos anos 1900, foi criada uma agenda política para o apagamento total da identidade, da cultura, dos valores do povo preto. Comparando aos europeus, eles mantêm seus valores, seus nomes, religiões etc. Mas o povo que foi escravizado perdeu toda a sua origem, nem dá pra saber de qual parte da África o escravizado é. Hoje o povo não sabe nenhum traço de qual parte do continente africano eram seus antepassados. Por exemplo, nos Estados Unidos, os japoneses americanos mantêm tudo que é da sua própria cultura, os chineses também. Inclusive há um bairro em Washington, DC que se chama Chinatown, que é todo configurado em chinês, no coração da capital dos EUA. Esse exemplo nos permite continuar o raciocínio no caso dos nossos irmãos tanto nos EUA quanto no Brasil. Diferentemente de outros povos, os nossos irmãos dão nomes europeus aos seus filhos. Outro exemplo de perda de identidade também é um africano nascido no continente, na aldeia, e não saber a língua do seu povo, mas se orgulhar por fala a língua do europeu.

Existem outras coisas também, como as práticas, as tradições. Exemplo, a espiritualidade, pois a religião foram os europeus que impuseram. Aliás, outra coisa que eles fizeram em África foi dividir o continente nos países existentes hoje. Essa conferência para a divisão aconteceu em 1885. Antes disso, o continente era separado por povos. Por isso que hoje, por exemplos os Bakongos estão em mais de um país. E como o povo Bakongo hoje está dividido, isso faz com que se chegue ao objetivo da colonização, que é a discriminação entre si. Um povo que se desentende entre si fica desestruturado. Entendem o porquê de a supremacia branca sempre querer dividir o povo preto?

Então, o que aconteceu no Brasil é que após a escravidão foi criada a política do embranquecimento. Foi uma agenda política de apagamento da identidade do povo africano. Com outros povos é diferente. Quem é descendente de japonês, chinês, alemão etc. tem orgulho de autodeclarar descendentes. E nós deveríamos ter não só orgulho de autodeclararmos africanos, mas também uma responsabilidade com nosso povo; mesmo quem nasceu na diáspora. Uma maneira de se reconhecer como tal e não estamos acostumados no Brasil é isso. Podemos ter exemplos de pretos que nasceram em outro país, mas se definem como africanos. Por quê? Porque eles têm identidade, eles sabem e reconhecem sua descendência. Mas isso se explica pela forma brutal como o projeto foi realizado no Brasil, um país onde a maioria da população que foi drasticamente violentada e ainda consegue conviver bem com seu inimigo, com quem te maltratou. Isso é questionado pelos pretos estrangeiros, inclusive. Infelizmente, essa política do embranquecimento deixou uma marca muito forte. Se uma pessoa é filha de casal interracial, a tendência é ela escolher o lado branco porque, no Brasil, quando se declara branco automaticamente a pessoa tem privilégios. Política genocida.

Esse projeto, essa política no Brasil tinha a intenção de que o Brasil estivesse branco até 2012. Não teve sucesso, mas conseguiram intensificar a miscigenação. Quanto mais perto do tom de pelo do branco, mais privilégio você terá. E isso dá uma confusão de identidade na pessoa. A gente entende que esse problema no Brasil é inevitável de acontecer. Cada pessoa tem seu tempo de reconhecer isso, sua identidade. Não é nem questão de tom da pele, de ser mais claro ou retinto, é de se reconhecer de tal povo. Na África mesmo, existem povos com tons de pele mais claro e mais escuro. Portanto, a intenção dessa conversa é levar os irmãos e irmãs à reflexão sobre sua identidade. É um assunto extenso, então aqui só foi plantada a sementinha.

Para quem quiser assistir à live completa, acesse aqui.

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