O protagonista de hoje é o senegalês Cheikh Anta Diop. O cara foi historiador, antropólogo, profissional da área de Letras, marcou presença na carreira política e ainda ocupa lugar na lista de um dos maiores historiadores africanos do século XX. Para ser mais exata, ele se dedicou ao estudo das origens da raça humana e cultura africana pré-colonial. As linhas a seguirem vão contar um pouco sobre a vida desse célebre e importante senegalês lembrado pelo maravilhoso povo africano, nossos irmãos, e com todas as honrarias merecidas.
Cheikh Diop nasceu em 1923 numa pequena aldeia chamada Caytou, no Senegal. Os países africanos ainda estavam sob dominação colonial europeia nesta época. Algumas personalidades estudavam para provar a inferioridade intelectual e cultural do negro. Lamentável! Dos teóricos envolvidos, pode-se citar Voltaire, Hume, Hegel, Gobineau, Levy Bruhl, etc.; das instituições, o Instituto de Etnologia da França, criado em 1925 por L. Levy Bruhl, estava também envolvido nesse estudo.
Em 1946, Diop mudou-se para Paris a fim de realizar estudos superiores em Matemática, pois tinha a intenção de seguir carreira como engenheiro da aeronáutica. Simultaneamente à faculdade de Matemática, ele se matriculou na de Filosofia e Letras da Sorbonne. O ingresso nessa última rendeu a ele sua participação da criação da Associação de Estudantes Africanos em Paris. A partir daí, Diop se vê num questionamento sobre a origem da humanidade e da civilização. Por meio de suas investigações científicas metódicas, a África ressurge como um processo de restauração da sua história. E foi para esse fato que Cheikh Anta Diop dedicou a sua vida.
Em 1947, Diop deu início às investigações linguísticas sobre wolof e o sérère. Estudou Física logo após concluir Filosofia e chegou a traduzir uma parte da Teoria da Relatividade, de Einstein, para o seu idioma nativo, o wolof. Diop teve sua tese de doutoramento negada pela Universidade de Paris pelo seguinte motivo: nela, Diop propunha que o antigo Egito tinha sido uma cultura negra; jamais iriam aceitar essa possibilidade. Não convencido pela recusa da Universidade, ele passou nove anos acumulando material que pudesse provar sua tese. Em 1955, ela foi publicada na imprensa popular em formato de livro intitulado Nations nègre er culture (Nações negras e cultura). Esse fato o tornou no historiador mais controverso do seu tempo. E cinco anos após a publicação do livro, ele conseguiu aprovação na defesa do seu doutoramento.
Após essa conquista, Diop regressou ao seu país e deu continuidade aos estudos e investigações. Seu domínio na língua materna, o wolof, é uma das principais chaves para o estudo da civilização faraônica. A Universidade de Dakar criou um laboratório de radiocarbono para colaborar na sua investigação. Afinal para que o historiador pudesse indicar com precisão o conteúdo de melanina das múmias egípcias, era necessário usar as técnicas com o radiocarbono.
Em sua vida política, Diop ainda, no início da década de 1960, criou um partido da oposição, o Bloc des Masses Sénégalaises (BMS). Em 1962, Diop chegou a ficar preso por um mês por conta desse partido da oposição. Os dominantes não deixaram com que o partido se mantivesse e deram fim nele em 1963, sendo declarado como ilegal. Mas o BMS não se deu por vencido e criou um partido novamente e, mais uma vez, o segundo foi dissolvido pelo então presidente da época, Leopold Sedar Senghor.
Cheikh Anta Diop foi uma personalidade de grande influência sobre o pensamento africano no século XX, recebendo um prêmio em razão disso. Para quem conhece ou já ouviu falar da coleção História Geral da África, da UNESCO, poderá conferir o nome de Cheikh Diop no capítulo que fala sobre as origens dos egípcios. Ele conseguiu esse espaço após participar de um debate da UNESCO no Cairo e apresentar suas teorias a outros especialistas em egiptologia.
Mesmo voltado para a carreira acadêmica, Diop não se distanciou da política. Em 1976, mais um partido foi criado por ele, o Rassemblement National Democratique (RND), que também foi declarado ilegal como os outros dois anteriores. Para a sorte de Diop, após quatro anos, em 1980, Leopold Sedar Senghor deixou o poder e o presidente que tomou posse aboliu a lei que proibia a formação de partidos políticos. Neste momento, o RND passou a ser reconhecido legalmente.
Nosso protagonista faleceu em 7 de fevereiro de 1986, foi enterrado em sua aldeia natal, Caytou, junto ao seu avô e fundador da Vila, Massamba Sassoum Diop, o Velho.